FMI ameaça Argentina com censura pública

21/04/2012 09:02

 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) ameaça apresentar uma censura pública à Argentina em setembro, caso não haja acordo com Buenos Aires sobre a revisão de suas estatísticas econômicas. Há anos, o FMI apresenta uma ressalva sobre os dados argentinos em seus documentos, por considerá-los inseguros, e informa ter usado uma combinação de cálculos oficiais e de instituições privadas. Até setembro, a Argentina será alvo também de uma avaliação criteriosa de sua economia pelo FMI.

A medida será estendida à Venezuela e a outros cinco países que não aceitam a revisão anual aplicada a todos os sócios da instituição. A possível censura pública foi admitida em carta enviada pela secretária de Estado, Hillary Clinton, com respostas às perguntas pontuais do senador americano Richard Lugar. O Estado teve acesso à missiva, enviada em 28 de fevereiro.

No texto, Clinton informa que o FMI vai realizar uma reunião em maio para "discutir o fracasso da Argentina em divulgar estatísticas e se reunirá formalmente em setembro para decidir se censura" o país. "Nós não esperamos nenhuma diluição das exigências (do FMI sobre as estatísticas de seus membros) no caso da Argentina", afirmou.

A desconfiança do Fundo e do Banco Mundial sobre os dados oficiais argentinos se acentuou no governo de Néstor Kirchner, nos anos 2000, quando o Instituto de Estatística e Censo (Indec) passou a sofrer ingerência do governo. Suas estatísticas de inflação, em especial, tornaram-se cada vez discrepantes com as calculadas por institutos privados. A situação continua no atual governo de Cristina Kirchner.

Ontem, o vice-diretor de Hemisfério Ocidental do FMI, Gilbert Terrier, confirmou ter havido conversas entre especialistas do Fundo e negociadores argentinos nas últimas duas semanas. "Espero que possamos avançar até setembro."

A diretoria executiva do FMI, em paralelo, encomendou a avaliação da economia dos sete membros que se recusam a cumprir as regras do artigo 4 do compromisso de adesão dos países ao Fundo. A Argentina e a Venezuela são os únicos da América Latina na lista. O artigo 4 prevê a avaliação anual da economia de cada sócio do FMI e é realizado com base no estudo de dados oficiais e da visita de uma missão. O trabalho será feito em parceria com o Banco Mundial e entregue em setembro, na época da reunião anual das instituições.

O diretor do FMI para Hemisfério Ocidental, Nicolas Eyzaguirre, disse que o governo argentino pediu ao Fundo uma auditoria do setor financeiro no país, o que deve ocorrer entre o final deste ano e o início de 2013.

Na carta ao senador Lugar, Hillary Clinton havia opinado sobre o tema. "Estamos extremamente desapontados com o fato de a Argentina não ter completado as consultas do artigo 4 desde 2006. Apoiamos e continuaremos a apoiar a política do FMI de cobrar da Argentina o cumprimento de suas obrigações."

A 6ª Cúpula das Américas, que terminou neste domingo sem que os países participantes se entendessem sobre seus principais temas, expôs a ascensão regional da Colômbia e golpeou as expectativas da Argentina de endosso do grupo ao seu pleito pelas ilhas Malvinas (Falklands, para os britânicos).

Ainda que o encontro não tenha produzido resultados contundentes - a principal decisão foi delegar à Organização dos Estados Americanos (OEA) a realização de um estudo sobre a política de combate às drogas da região -, o evento foi considerado uma vitória para os anfitriões colombianos.

A algumas semanas da cúpula, a presença de vários líderes regionais importantes, como a presidente Dilma Rousseff, era tida como incerta.

No entanto, só não compareceram ao evento os presidentes do Equador (Rafael Corrêa), Nicarágua (Daniel Ortega), Haiti (Michel Martelly) e Venezuela (Hugo Chávez) - os três primeiros faltaram em protesto pela ausência de Cuba no encontro, enquanto o último citou problemas de saúde.

Segundo um diplomata brasileiro, a presença no evento dos líderes dos países mais poderosos da região, como Estados Unidos, Brasil e México, mostra o prestígio desfrutado atualmente pela Colômbia. Ele também diz que um dos grandes objetivos do país era mostrar que tinha condições de realizar o evento em segurança.

O intento colombiano, segundo o diplomata, foi largamente alcançado. Apesar de algumas explosões em Bogotá e Cartagena, que não deixaram feridos nem produziram danos, não houve relatos de falhas mais graves na segurança.

Prota

Desde que Juan Manuel Santos assumiu a Presidência, em 2010, ele tem reivindicado um maior papel para a Colômbia na região. Meses após tomar posse, Santos assumiu, ao lado de Chávez (desafeto de seu antecessor na Presidência colombiana, Álvaro Uribe), a liderança nas negociações para o retorno do ex-presidente Manuel Zelaya a Honduras, em 2011.

Além de pôr fim às desavenças com governos esquerdistas de países vizinhos - sob Uribe, a Colômbia também se estranhava com Equador e com Cuba -, Santos desfruta de uma popularidade interna que beira os 80%, ancorada em vitórias militares contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e no bom momento econômico do país (o PIB colombiano cresceu 6% no ano passado).

Arlene Tickner, professora da Relações Internacionais da Universidade de Los Andes, em Bogotá, diz que Santos tem se apresentado como alguém capaz de "fazer uma ponte entre norte e sul, leste e oeste".

Para Tickner, trata-se de uma postura próxima à que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantinha na região e que, segundo ela, Dilma Rousseff não parece tão disposta a seguir.

Ela afirma ainda que a ascensão de Santos preenche um vácuo de liderança na região, uma vez que os governos do Chile, México e Argentina enfrentam graves problemas domésticos e os da Bolívia, Equador e Venezuela "estão muito nos extremos para construir qualquer consenso".

No entanto, a professora acredita que a Colômbia não tem um "poderio diplomático" capaz de sustentar as ambições de seu presidente. Além disso, Tickner afirma que a falha da Cúpula das Américas em produzir resultados mais concretos evidencia "a tarefa gigante" que Santos tem pela frente.

"Há uma divisão tremenda na América Latina hoje. Não sei se Santos terá algum êxito em suas ambições", disse ela à BBC Brasil.

Segunda maior economia

As pretensões da Colômbia não se aplicam somente à diplomacia. No ano passado, Bogotá apresentou uma projeção dizendo que a economia colombiana seria a segunda maior da América do Sul em 2012, ultrapassando a Argentina.

Na última Cúpula das Américas, à disputa com a Argentina pelo posto de segunda maior economia da região somou-se um estranhamento político.

Em resposta a um jornalista, Santos disse que, após discursar a empresários no sábado, a presidente argentina, Cristina Kirchner, o procurou para indagar por que ele não se referira em sua fala ao pleito argentino pelas ilhas Malvinas.

No domingo, Cristina decidiu não participar de uma reunião privada entre os presidentes e antecipou sua volta, atitude atribuída à falta de apoio à sua reivindicação sobre as ilhas.

Santos, no entanto, disse que ela alegou "problemas na Argentina" para regressar mais cedo.

Em seu discurso no final da cúpula, o colombiano afirmou que a maioria dos países apoiava uma solução pacífica para o impasse sobre as ilhas, mas não endossou o pleito argentino. Segundo diplomatas, Estados Unidos, Canadá e alguns países caribenhos se opuseram a uma declaração favorável à Argentina.

A falha de Cristina em obter o apoio para a sua demanda ocorre no momento em que seu governo enfrenta um escândalo no alto escalão.

A Justiça argentina investiga se o vice-presidente, Amado Boudou, intercedeu a favor de uma empresa em licitação para a emissão de moeda, o que caracterizaria tráfico de infulência. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC. 

 

BUENOS AIRES - O diretor da Organização Internacional de Migração (OIM) para América do Sul, o uruguaio Juan Artola, disse que existe uma tendência a maior migração regional e, ao mesmo tempo, tendência ao menor fluxo de emigrantes sul-americanos para os países da Europa e dos Estados Unidos.

Estima-se que o Brasil tenha registrado nos últimos anos a chegada de 75 mil imigrantes - Khaled Abdullah/Reuters
Khaled Abdullah/Reuters
Estima-se que o Brasil tenha registrado nos últimos anos a chegada de 75 mil imigrantes

"É uma tendência que ocorre por um conjunto de fatores, que inclui maiores oportunidades na América do Sul num momento em que ficou mais difícil conseguir trabalho e a chance de imigrar para a Europa e para os Estados Unidos", disse Artola em entrevista à BBC Brasil.

Segundo ele, nos últimos anos aumentou a migração intra-regional na Argentina, Brasil e, em certa medida, também no Chile e no Uruguai. Todos absorveram mão-de-obra regional, de acordo com o diretor da OIM.

Artola observou que o crescimento econômico registrado na última década nos países da América do Sul e a facilitação para conseguir documentos de residência contribuíram para esta migração intra-regional.

"Essa imigração intra-regional é um fato inédito nos últimos 30 ou 40 anos, mas coincide com o crescimento econômico e o impulso do processo de integração do Mercosul e da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração)", disse.

Menos burocracia 

O diretor da OIM lembrou que nos últimos anos os trâmites burocráticos para um imigrante se estabelecer no país vizinho foram simplificados a partir de acordos do Mercosul e da Aladi.

"Estes fatores, somados ao problema do emprego na União Europeia e nos Estados Unidos, fizeram com que muitos imigrantes preferissem um país da região. Seja pela oportunidade ou pela distância", afirmou.

Para ele, apesar da desaceleração de algumas economias regionais em 2011 e a perspectiva deste ritmo continuar em 2012, este fluxo de migração intra-regional não deverá ser afetado. "Não percebemos que esta tendência vai diminuir. Ao contrário", disse.

Jovens 

Nos últimos dez anos, cerca de 700 mil sul-americanos migraram para um país da própria região. Deste total, 500 mil mudaram-se para a Argentina na última década.

"Meio milhão de paraguaios, bolivianos e peruanos chegaram à Argentina em busca de oportunidades. Hoje, a população total de imigrantes representa aproximadamente 4,5% da população nacional argentina", disse.

Estima-se que a maioria tenha idades entre 20 e 35 anos. No caso de Buenos Aires, a maior presença de imigrantes sul-americanos é observada nos trabalhos nos salões de cabeleireiro, nos supermercados e nas universidades públicas do país, por exemplo.

No Brasil, disse Artola, ocorre a mesma tendência a maior presença de imigrantes sul-americanos, mas em menor escala.

"Não pelo idioma (português), mas pela distância. Esta imigração poderia ser maior em São Paulo se não fosse a distância (para os países vizinhos)", disse. Estima-se que o Brasil tenha registrado nos últimos anos a chegada de 75 mil imigrantes.

"O Brasil vai continuar recebendo imigrantes da região, de outros países e continentes", disse. "Os brasileiros, filhos de japoneses, que tinham ido para o Japão estão voltando. Espanhóis e africanos procuram oportunidades no Brasil e na Argentina. Mas no caso do Brasil, que tem quase 200 milhões de habitantes, esta proporção é menor em comparação aos outros países da região", afirmou.

Ele entende que a proporção de espanhóis e de africanos ainda é pequena e ainda não foi estimada numericamente.

Uruguai, retorno 

Na sua visão, os países da região estão podendo absorver a mão-de-obra que chega dos países vizinhos tanto em obras como em trabalhos domésticos, entre outros setores.

"No Uruguai, os peruanos trabalham na pesca e paraguaios e bolivianos muitas vezes em empregos domésticos", disse.

Recentemente, autoridades uruguaias do governo do presidente José "Pepe" Mujica discutiram sobre a necessidade de estimular a imigração para tentar "povoar" o país, onde vivem cerca de 3 milhões de habitantes.

O diretor regional da OIM disse que vem sendo observado ainda o retorno aos seus países de habitantes que estavam na Europa ou Estados Unidos.

"Dez mil uruguaios retornaram ao Uruguai nos últimos dois anos. É um número alto na proporção total dos habitantes do país", afirmou.

No Chile, apesar da rivalidade histórica entre os dois países, é detectada quantidade crescente de peruanos trabalhando em diferentes setores.

"Em muitos dos países da região, como Uruguai e Chile, a taxa de natalidade caiu, e a imigração chega em bom momento", afirmou.

Artola antecipou à BBC Brasil que os dados completos da migração intra-regional serão divulgados pela OIM em abril.

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Turistas foram presenteados com um fenômeno natural impressionante, o desabamento de um trecho extenso da geleira de Perito Moreno, no Lago Argentina, no sul da Argentina.

A queda de grandes pedaços de gelo dentro do lago foram saudadas aos gritos por viajantes que visitavam o Parque Nacional Perito Moreno.

A geleira mais famosa da Argentina é também uma das mais estáveis e acessíveis do país.

Ela tem mantido suas proporções originais, ao passo que outras geleiras no país vêm perdendo volume.

A geleira cobre uma área de aproximadamente 200 quilômetros quadrados e as encostas da geleira medem cerca de 70 metros de altura. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC. 

fonte: ESTADÃO.COM.BR/INTERNACIONAL

postado no dia 2012-04-04 ás 15:06

No Congresso, Cristina destaca recuperação econômica

MARINA GUIMARÃES, CORRESPONDENTE - Agência Estado

A presidente Cristina Kirchner inaugurou nesta quinta-feira as sessões no Congresso Nacional Argentino com um balanço do governo desde 2003, quando assumiu o marido dela, o ex-presidente Néstor Kirchner, morto em outubro de 2010. Vestida com o habitual luto, a presidente iniciou o discurso citando a presença do juiz espanhol Baltasar Garzón, acompanhado pelas Avós e Mães de Praça de maio, históricas organizações de defesa de Direitos Humanos no país.

 

 

Com as galerias repletas de militantes do grupo de jovens La Cámpora, liderado pelo filho Máximo Kirchner, e outros movimentos populares de apoio ao governo, Cristina foi fortemente aplaudida em cada um dos temas abordados em seu discurso. Ao destacar as vitórias de sua administração na economia, a presidente preferiu usar números do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) e G-20 porque, segundo ela, "alguns confiam mais nesses indicadores do que nos argentinos".

 

"Desde 2003, tivemos um dos maiores crescimentos econômicos que há na memória. Depois da Índia e China, a Argentina foi o país que mais cresceu nesses anos", disse Cristina. Também comparou a evolução do PIB nos últimos 40 anos. "A média de crescimento econômico da Argentina destes anos foi de 7,9%, o que coloca a Argentina com o processo econômico mais importante da região", ressaltou.

 

Mencionando dados do FMI, a presidente disse que o "crescimento do PIB em relação ao poder aquisitivo de um dólar em cada país, considerando a cotação do câmbio, em 2003 era de US$ 8.700 mil e hoje é de US$ 17.366 mil per capita". Os resultados, segundo ela, não vieram por ventos externos favoráveis, mas pela política econômica consistente. Sempre citando números, a presidente repassou cada um dos setores produtivos do país e áreas do governo. E defendeu a criticada política de subsídios que, segundo ela, foi uma das responsáveis pelo "desenvolvimento e crescimento dos argentinos e de inúmeras empresas".

 

"O crescimento da Argentina se explica a partir de um modelo de desenvolvimento que fez do consumo popular e a distribuição de renda suas principais bandeiras, que nos permitiu crescer", afirmou. A presidente também se gabou de não precisar de financiamentos externos para sustentar a economia e mencionou a legislação de 2005 que "impede a chegada ao país de capitais financeiros especulativos, que evita saltos monetários que não temos tido, à margem do sistema de flutuação administrada do câmbio que temos tido com sucesso".